quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A arte de ser mulher

Adorei a história da Nete, a depiladora dos bacanas no Rio. Mora na favela Parque Real (Zona Sul), mas já está de mudança armada porque começou a ganhar dinheiro e a "chamar a atenção" da vizinhança menos provida. Li a matéria da edição deste mês da Piauí, que citava as precursoras da "tosa" profissional nas virilhas da mulherada nos EUA, as mineiras J. Sisters, depois de experimentar um serviço sem horário marcado (grande vantagem competitiva) numa franquia especializada, a Depyl Action, outra que aparece na reportagem disponível aqui.
Na maca da moderna e bem equipada sala de depilação da rede que nos convida a manifestarmos nossa feminilidade com um cardápio variado de desenhos pubianos, tipos de depilação para homens e mulheres, nas mais variadas áreas do corpo, lembrei da tia Maria. Certa vez fui ao salão dela fazer um retoque durante o verão e vivi momentos de dor e diversão. Enquanto me falava da vida, ela mandava ver no roll-on (ai que dor!) método que só aceito em último caso. Pensei que sairia dali em carne viva. Mas, bem no estilo Nete, ela prestou um bom serviço. Engraçado, embora tivesse sofrido pacas nas mãos de minha algoz depiladora cheia de histórias para contar e com um ousado conceito de virilha cavada, se um dia precisar, volto com muito gosto.
Nete, assim como tia Maria, que atende em uma maca nos fundos do salão, cercada por estoques de produtos de toda natureza e revistas antigas de cortes de cabelo, tem também sua vantagem competitiva. A personagem da matéria da Piauí é, antes de tudo, uma confidente, amiga das clientes. Chega a emprestar dinheiro para as "patroas" em apuros, dá desconto para as fiéis durangas e superfatura a tabela, se não fizer questão de atender alguma dondoca chata. Batalhadora, educa as filhas para a vida com boa dose de realidade. "Não depilo bunda de madame pra vocês irem mal na escola", avisa sempre que necessário. Grande Nete, da próxima vez que eu for ao Rio, vou tentar um horário com ela, figuraça.