terça-feira, 25 de maio de 2010

Xô perereca

Não era rã e sim perereca o "entrave" da pavimentação no lado catarinense dos Aparados da Serra, em Praia Grande. Paulinho, nosso guia geógrafo esclareceu e nos deu uma aula sobre o ecossistema local, sobre a origem das formações gigantes, fissuras e paredões que íamos conhecer adiante. Tá certo, a espécie está em extinção, não sabem se essa perereca sobreviveria em outro lugar e, se queremos turismo sustentável, vamos assim, com paciência e respeito pela vida. O acesso foi fácil, subimos de carro tranquilamente até o parque, admiramos e fotografamos os canyons (lindos!) tomamos muita chuva a espera de uma abertura da névoa que encobria a paisagem, com cachoeiras, uma mais surpreendente do que outra. As gêmeas são as mais incríveis! Lama nos pés, água nas lentes, aventura na tirolesa (encarei mais esta!) bóia cross, lareira, paçoca de pinhão e vinho regional. Na hora do banho, lá estava ela, a perereca rara, dourada (a cor é bonita que só) no meu box. Me olhando, como quem sugere: - esquece, deixa para amanhã que água não está esquentando muito a essa hora. Mas, sem banho não durmo. Também não ia comprar briga com o bichinho raro da região que me recebeu com tanto carinho. Inspirada na caçadora de gafanhotos (minha filha retira insetos de casa para devolver à natureza com muito zelo) peguei o copo do frigobar, um leque da campanha de carnaval seguro do Ministério da Saúde e improvisei uma gaiola até chegarmos lá fora, na grama, na chuva, no habitat dela. Pronto, cada uma no seu cantinho. Banho, Marina Silva na telinha, descanso dos justos em mais um sono pesado.
Na pousada da dona Maria (pousadacolina@hotmail.com) a do chalé fofo azul, com horta orgânica e um lindo fogão à lenha (meu sonho de consumo) fomos muito mimados. Comida caseira serrana, doces de compota, chá de alecrim, lanchinho para levar nos passeios e boas conversas ao redor da mesa da cozinha. Disse ela que, pelo que contavam  "os antigos", o fogo "prende as pessoas". Ela mesma não consegue largar dali, enquanto a lenha mantém o calor na chaleira. Comprovado. Vira e mexe, lá estávamos nós perto do fogão, esperando a chuva passar para continuar a pauta externa. Maria começou recebendo hóspedes em casa, hoje tem um conjunto de chalés bem confortáveis e a casa dela virou recepção e restaurante aconchegante. Livros e algo para degustar sempre à mão, o pessoal adora passar o tempo na "casa grande". No meu caso, até os tênis de caminhar no rio de Mariana (a filha de Maria) me salvaram do despreparo para esta viagem. Choveu mais do que esperávamos e meu pequeno estoque de calçados na mochila inundou, esgotando-se facilmente. Paz e sossego que se busca na Serra com acesso à internet fazem a diferença, garante a empresária. Ela sabe que o viajante não abre mão da tecnologia para comunicação. Como é que vai postar as fotos no orkut ou no facebook e dizer: - eu tô aqui numa vida mais ou menos. É mesmo, olha eu aqui, não (ainda) de férias, mas dependente do sistema. Nossa companheira de press trip, roteirista de TV agradeceu poder entregar as duas últimas páginas do seu seriado diretamente do chalé. Eu escrevi releases e notas, chequei meu e-mail, André (o jornalista que acompanho na matéria) também resolveu suas pendências, enviou material.
 - Mato ou não mato. De vez em quando seu pesamento se descola, vai longe e, sem perceber, ela deixa escapar diálogos e movimentos de cenas. Vai saber se não estaremos naquele capítulo? Tem vezes em que a roteirista parece capturar um trecho de algo nosso, nos observa demais.
Valerie e Peter, ela norte-americana, ele escocês querem curtir os esportes radicais e ficar perto da natureza em Praia Grande. Estão na pousada mais equipada para isso, com instrutores de rappel, tirolesa, bóia cross, passeios de moto quadriciclo, a cavalo, arvorismo. Os dois embarcam comigo na subida de 10 minutos até o ponto de partida da tirolesa de pouco mais de 200 metros. Somente Valerie e eu somos autorizadas pelos instrutores. Peter estava acima do peso máximo permitido para os padrões de segurança da prática. Com a chuva, fica mais difícil freiar também. Ela me pergunta se tenho medo. Digo que não, para que minha parceira mantenha sua coragem e se jogue. Então, sou a primeira e tirar os pés da plataforma, presa por cabos nas pernas, fazendo meu assento no ar. Deslizei sobre as ávores numa velocidade de 40 km, de olhos bem abertos, depois de ter respirado fundo por orientação dos guias. Uma sensação muito boa essa de Jane das selvas. Valerie veio logo em seguida gritando: - ohhhhhh, greaaaaaaat! No bóia cross não nos arriscamos, os instrutores avisaram que nem daria, pois a chuva fez o nível do rio Malacara subir. Fomos ver as manobras de Frank  nas ondas radicais, desviando de pedras, caindo e voltando para a bóia no esporte que é mania na cidade de Praia Grande. Antes a comunidade descia em flutuantes troncos de bananeira, depois passaram a utilizar câmaras de pneus de caminhão e hoje as bóias epeciais para a prática têm alças de segurança, os turistas podem praticar com o auxílio dos instrutores sem medo. Os meninos explicam que a pousada implantou o programa de certificação de Aventura Segura, do Ministério do Turismo com a ABETA (Associação Brasileira de Turismo de Aventura) e que isso acompanha o crescimento de adeptos. Em Praia Grande, no verão, a população se reúne para uma grande competição de Bóia Cross. Os troféus são disputados com muita garra e a cidade fica lotada de visitantes.


Seguuuuuuuura, Frank!



O fogo ficou aceso, mas uma hora a gente tem de partir. Até a próxima história, dona Maria!

De vez em quando, uma abertura de ceú e um espetáculo da natureza, obrigada!