segunda-feira, 31 de maio de 2010

A saudade, as maçãs e o vinho

Longe de casa, há mais de uma semana, milhas e milhas distante do meu amor. Será que ela está me esperando? Eu fico aqui sonhando, voando alto, bem perto do céu...
Ela estava, como sempre, com uma beijoca cheia de saudade, do tamanho da que eu senti todas as noites ao deitar sem minha pequenina e ao acordar sem ter de preparar seu leitinho e chamá-la 557 mil vezes para sair da cama. Da terra da garoa sinto falta, adoro a rotina agitada, gosto dos estranhos solidários da cidade grande, dos amigos que são para sempre (não briguem comigo porque não deu tempo de nada nesses dias de feira, meus queridos e queridas) das possibilidades, das conectividades. Mas estar de volta à minha casa, ter a pequena Buda nos braços e ler seu cartãozinho de boas vindas é melhor do que tudo isso. Esta é a parte gostosa da vida, amar e ser amada. Para abrir a semana que merece ser leve, com descanso e paz, uns posts atrasados da press trip com O Globo pela serra catarinense, antes do embarque para o Salão do Turismo.

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Os japoneses são responsáveis pela cultura da maçã em São Joaquim, na serra catarinense. A presença deles está registrada não só nos pomares que movimentam a economia local, mas no monumento da praça central na cidade da neve. Destino indutor do turismo de inverno no Brasil, São Joaquim tem na igreja matriz duas esculturas "escondidas" lá nos fundos da construção em pedra, Adão e Eva experimentando o fruto da terra,  o que lhes custou a expulsão do paraíso. Este é um pomar do tipo Colha e Pague, ao longo da serra e estas são maçãs Fuji, a espera da colheita que vai até junho. Dos dez tipos de uvas (oito tintas e duas brancas) cultivadas no alto da serra, onde o clima é frio e seco (embora também chova, com a frequência necessária para o cultivo das tintas, que exigirem maior tempo de maturação) São Joaquim extrai o vinho tinto, branco, rosé (o mesmo que Madonna provou e teria levado em sua última estada no Brasil) de excelente qualidade. São os vinhos de altitude, com uma característica da Villa Francioni, que é de produzir em corte, ou seja, utilizar dois tipos de uva em um mesmo vinho. Quem explica ( e eu espero ter entendido corretamente) é o expert Orgalindo Bettu, enólogo da vinícola-grife da serra catarinense. Natural de Bento Gonçalves, cresceu entre os parreirais e vendo o pai produzir o mais apurado artesanal com maestria. Sereno como todo apreciador da bebida e humilde para quem detém admirável domínio sobre o tema, Bettu não lembra do seu primeiro gole. Mas nos ensina, como quem conhece desde o ventre, a apreciar a bebida em uma deliciosa degustação prevista no final do roteiro de visita à vinícola oferecido a turistas em São Joaquim.  Confesso que, a cada troca de taça, me custava esvaziar tudo no recipiente diante de mim e aguardar o próximo. Tão precioso líquido, despejado assim...fui logo querendo saber como era a degustação a cada 15 dias lá na linha de produção. Sim, porque haja vinho para manter ali nas barricas 225 litros, capacidade para fabricar 300 mil garrafas/ano (fazem metade hoje).



A paisagem em  300 hectares da vinícola, a mil metros de altura é o começo do nosso roteiro, observando a grandiosa construção em tijolos recicláveis, com aberturas em vitrô, idealizada por Manoel Dilor de Freitas. O passeio acontece desde a galeria de artes, onde já estiveram expostas obras de artistas como Camille Claudel e outros que integram o acervo de Lily Marinho (ela está fotografada entre tantos outros famosos conhecedores da bebida convidados para as degustações da Ville Francioni). No piso onde a uva se processa, vira vinho e é engarrafada toda a produção da VF, obras em mosaico de Rodrigo de Haro (o pai, Martinho, era joaquinense) promovem a integração entre o prazer de beber um vinho de boa qualidade (prometo que depois desse dia nunca mais reclamo de preço, agora que sei que uma simples rolha pode custar R$ 5,00, garrafas e barris são importados e bem caros. A média de preços da marca é de R$ 50,00) e o de observar a arte na parede. O sexto e último nível de maturação dos vinhos é escuro, com temperatura de até 18 graus, o lugar que Bettu chama de "coração da vinícola" tem cheiro acentuado de vinho e não mais do carvalho das barricadas. Lá os barris estão arranjados em pirâmides. Os tintos amadurecem nas barricas, depois nas garrafas, ensina o enólogo. Dentre os brancos, somente o Chardonnay carece desta etapa na garrafa. Lá tivemos o prazer de conhecer a mais nova criação de Bettu, a champagne VF que deverá ser lançada em 2011. Na foto, ele nos mostra como funciona o método de maturação do vinho na garrafa chamado champenoise, desenvolvido lá pelos idos de 1600, quando Don Perignon descobriu a fórmula dos espumantes. Curiosidade que Bettu nos acrescenta, ao permitir que degustemos a novidade: quanto menor e mais delicada a perlage, mais qualidade tem a bebida com a qual celebramos a vida. À noite, na residência anexa, disfrutamos de um delicioso jantar serrano protegidos pela calefação e bebemos mais um pouco do melhor de todos, ouvimos música, papeamos. Agora bem mais ousados, sabendo o que falar ou pelo menos testando a paciência de nosso sábio Bettu, a nos maturar a cada lance depois de misturarmos o líquido, percebermos o buquê, segurarmos o primeiro gole na boca e dispararmos nossas opiniões. Grazie, Bettu!

terça-feira, 25 de maio de 2010

Xô perereca

Não era rã e sim perereca o "entrave" da pavimentação no lado catarinense dos Aparados da Serra, em Praia Grande. Paulinho, nosso guia geógrafo esclareceu e nos deu uma aula sobre o ecossistema local, sobre a origem das formações gigantes, fissuras e paredões que íamos conhecer adiante. Tá certo, a espécie está em extinção, não sabem se essa perereca sobreviveria em outro lugar e, se queremos turismo sustentável, vamos assim, com paciência e respeito pela vida. O acesso foi fácil, subimos de carro tranquilamente até o parque, admiramos e fotografamos os canyons (lindos!) tomamos muita chuva a espera de uma abertura da névoa que encobria a paisagem, com cachoeiras, uma mais surpreendente do que outra. As gêmeas são as mais incríveis! Lama nos pés, água nas lentes, aventura na tirolesa (encarei mais esta!) bóia cross, lareira, paçoca de pinhão e vinho regional. Na hora do banho, lá estava ela, a perereca rara, dourada (a cor é bonita que só) no meu box. Me olhando, como quem sugere: - esquece, deixa para amanhã que água não está esquentando muito a essa hora. Mas, sem banho não durmo. Também não ia comprar briga com o bichinho raro da região que me recebeu com tanto carinho. Inspirada na caçadora de gafanhotos (minha filha retira insetos de casa para devolver à natureza com muito zelo) peguei o copo do frigobar, um leque da campanha de carnaval seguro do Ministério da Saúde e improvisei uma gaiola até chegarmos lá fora, na grama, na chuva, no habitat dela. Pronto, cada uma no seu cantinho. Banho, Marina Silva na telinha, descanso dos justos em mais um sono pesado.
Na pousada da dona Maria (pousadacolina@hotmail.com) a do chalé fofo azul, com horta orgânica e um lindo fogão à lenha (meu sonho de consumo) fomos muito mimados. Comida caseira serrana, doces de compota, chá de alecrim, lanchinho para levar nos passeios e boas conversas ao redor da mesa da cozinha. Disse ela que, pelo que contavam  "os antigos", o fogo "prende as pessoas". Ela mesma não consegue largar dali, enquanto a lenha mantém o calor na chaleira. Comprovado. Vira e mexe, lá estávamos nós perto do fogão, esperando a chuva passar para continuar a pauta externa. Maria começou recebendo hóspedes em casa, hoje tem um conjunto de chalés bem confortáveis e a casa dela virou recepção e restaurante aconchegante. Livros e algo para degustar sempre à mão, o pessoal adora passar o tempo na "casa grande". No meu caso, até os tênis de caminhar no rio de Mariana (a filha de Maria) me salvaram do despreparo para esta viagem. Choveu mais do que esperávamos e meu pequeno estoque de calçados na mochila inundou, esgotando-se facilmente. Paz e sossego que se busca na Serra com acesso à internet fazem a diferença, garante a empresária. Ela sabe que o viajante não abre mão da tecnologia para comunicação. Como é que vai postar as fotos no orkut ou no facebook e dizer: - eu tô aqui numa vida mais ou menos. É mesmo, olha eu aqui, não (ainda) de férias, mas dependente do sistema. Nossa companheira de press trip, roteirista de TV agradeceu poder entregar as duas últimas páginas do seu seriado diretamente do chalé. Eu escrevi releases e notas, chequei meu e-mail, André (o jornalista que acompanho na matéria) também resolveu suas pendências, enviou material.
 - Mato ou não mato. De vez em quando seu pesamento se descola, vai longe e, sem perceber, ela deixa escapar diálogos e movimentos de cenas. Vai saber se não estaremos naquele capítulo? Tem vezes em que a roteirista parece capturar um trecho de algo nosso, nos observa demais.
Valerie e Peter, ela norte-americana, ele escocês querem curtir os esportes radicais e ficar perto da natureza em Praia Grande. Estão na pousada mais equipada para isso, com instrutores de rappel, tirolesa, bóia cross, passeios de moto quadriciclo, a cavalo, arvorismo. Os dois embarcam comigo na subida de 10 minutos até o ponto de partida da tirolesa de pouco mais de 200 metros. Somente Valerie e eu somos autorizadas pelos instrutores. Peter estava acima do peso máximo permitido para os padrões de segurança da prática. Com a chuva, fica mais difícil freiar também. Ela me pergunta se tenho medo. Digo que não, para que minha parceira mantenha sua coragem e se jogue. Então, sou a primeira e tirar os pés da plataforma, presa por cabos nas pernas, fazendo meu assento no ar. Deslizei sobre as ávores numa velocidade de 40 km, de olhos bem abertos, depois de ter respirado fundo por orientação dos guias. Uma sensação muito boa essa de Jane das selvas. Valerie veio logo em seguida gritando: - ohhhhhh, greaaaaaaat! No bóia cross não nos arriscamos, os instrutores avisaram que nem daria, pois a chuva fez o nível do rio Malacara subir. Fomos ver as manobras de Frank  nas ondas radicais, desviando de pedras, caindo e voltando para a bóia no esporte que é mania na cidade de Praia Grande. Antes a comunidade descia em flutuantes troncos de bananeira, depois passaram a utilizar câmaras de pneus de caminhão e hoje as bóias epeciais para a prática têm alças de segurança, os turistas podem praticar com o auxílio dos instrutores sem medo. Os meninos explicam que a pousada implantou o programa de certificação de Aventura Segura, do Ministério do Turismo com a ABETA (Associação Brasileira de Turismo de Aventura) e que isso acompanha o crescimento de adeptos. Em Praia Grande, no verão, a população se reúne para uma grande competição de Bóia Cross. Os troféus são disputados com muita garra e a cidade fica lotada de visitantes.


Seguuuuuuuura, Frank!



O fogo ficou aceso, mas uma hora a gente tem de partir. Até a próxima história, dona Maria!

De vez em quando, uma abertura de ceú e um espetáculo da natureza, obrigada!

sábado, 22 de maio de 2010

Boa noite

Pistas desordenadas, buracos ameaçadores, sinalização precária, megafilas exaustivas, desde o acesso à BR, ainda em Florianópolis. Estamos em obras, desculpem o transtorno, aviso aos navegantes. O caos temporário trará o absoluto desfrutar de um novo horizonte, aguardem. Quase seis horas de estrada nos esperavam. No caminho encanto os convidados apontando a Imbituba das Baleias, a Laguna de Anita. Jornalistas não esgotam pautas, a viagem começa com nossa integração contra o tédio do congestionmento. Causos, risadas, favas contadas de coberturas, vida de repórter, mais um gancho, nova edição e assim nos distraimos. Se o jantar de recepção na chegada ao pé da serra já deixara de ser possível, o negócio era encontrar um lugar à beira da estrada para matar fome, saciar a sede. Nada além de lamparinas vermelhas sinalizando diversão farta e de raras ofertas de frituras vencidas nas vitrines embassadas das lanchonetes. Decidimos abdicar da refeição. Nossa previsão de chegada estourara fazia tempo, diante da lentidão do tráfego gerado pelas barreira que despencaram sobre o asfalto em construção. Foi então que nosso guia (de direção e turístico) nos vem com a melhor opção esperada. Um rodízio de massas e pizza, em Araranguá. Na chegada, somos saudados com Namastê! (inclusive este era nome do estabelecimento). Em menos de 20 minutos éramos quatro felizes diante dos pratos de variadas massas e molhos, pizzas e uma garrafa (resfriada?!) de Cabernet. Tudo bem, ainda não começamos a degustação profissional, foi só nosso jantar de chegada improvisado no caminho com grata surpresa. Entramos em Praia Grande, passamos pelo pequeno centro movimentado pela sexta à noite e logo o asfalto vira chão batido. "Aqui não tá pronto ainda, por causa de um casal de rã que precisa ter seu território preservado", explica o nosso guia. Amanhã teremos detalhes sobre esta admirável decisão a respeito do progresso que abre caminho na natureza para o turismo, adianta ele. Eu que já vinha desmitificando a previsão alarmada de ciclone que assustava os colegas da imprensa carioca em nosso território, apontando uma ou duas estrelas que catei no céu e a lua clara entre as nuvens cinzas, valorizei a história das rãs (no melhor espírito Avatar) e assim ganhei um box verde na matéria. Agora estou teclando de um chalé azul com aberturas brancas bem fofinho, até parece uma casa de bonecas. Os fundos dão para a floresta coberta por uma bruma misteriosa de onde ouço a sinfonia noturna que me fará adormercer em poucos minutos. Estou na Pousada da Colina, que tem comunidade no Orkut e horta orgânica com as bananinhas mais doces que já experimentei na minha vida.


Amanhã às oito da matina seguiremos para  o Canyon do Índio e Itaimbezinho e teremos uma trilha. Já decidimos percorrer talvez metade das sete horas previstas de caminhada. Não temos preparo físico para tal e concordamos que a visão do alto é o grande apelo.
Sinfonia de seres da floresta e agora a chuva são promessas de um sono calmo e profundo. Boa noite. 

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Pé na estrada

Ontem fui ao painel do jornalista e fotógrafo André Teixeira, de O Globo, no Floripa na Foto (UFSC). Vimos diversas situações flagradas pelas sagazes lentes de André, dramas, crítica política, humor, magia, cores, arte, gente, lugares em diferentes recortes da realidade. Discussão sobre a foto no contexto da notícia instantânea produzida pela internet (sites noticiosos e blogs),  direitos autorais, ética, o futuro das mídias, sobretudo do jornal impresso. André aposta na sobrevivência do bom e velho, mas entende que é preciso "buscar maior profundidade" na abordagem dos fatos. O furo fica para a web. Gosto desse contato com os colegas de redação para me fazer sentir cosquinha na barriga com vontade de voltar para o jornalismo diário (não o que meu lá do outro lado do balcão não o seja). Mas é a paixão, a tal que a realidade não deixa passar disso. Basta relembrar a rotina enlouquecedora, os pescoções de sexta-feira, plantões em feriados e finais de semana, entre outros fatores que a maturidade profissional e pessoal (os rumos que a vida toma) nos fazem questionar...ah, deixa pra lá.
Hoje boto o pé na estrada acompanhando o jornalista em uma pauta para o caderno de turismo do jornal carioca. Vamos desvendar o mais novo roteiro turístico de Santa Catarina, lançado no ano passado no Salão do Turismo, em São Paulo com o vizinho Rio Grande do Sul. Nossa aventura começa nos cânions dos Aparados da Serra (lado catariensense). Percorreremos trilhas, subiremos serras, faremos contato com o que há de mais belo e grandioso nesta terra abençoada, a imensidão dos picos de onde quase se toca o céu.
Depois dos cânions, parque Aparados da Serra faremos um roteito de Enoturismo (outro produto catarinense que vai para a vitrine nacional no Anhembi todos os anos e faz um grande sucesso com o chope e a cerveja artesanais, assim como a paçoca de pinhão da Serra Catarinense) passando por São Joaquim e Urubici. Fotos e relatos, se a conexão permitir.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Nós chegaremos lá

Hoje abrimos nossa prática com o quinto e último príncípio do Yôga, o desapego. Em todos os sentidos, para tudo com o que ou quem interagimos, esta é uma virtude, acredito. Livres do apego, não sofremos, vivemos a plenitude da existência. Como nesta manhã éramos apenas mulheres, falamos mais sobre o desapego na criação dos filhos, pensando no exercício de compreender que os criamos para a vida, não para nós. Falamos de apego material e sobre como tudo é instável, mutável. Quanto a isso, me senti muito tranquila. Sempre tive a consciência que não somos, estamos, de que a vida é cheia de altos, baixos e intermediários, sobretudo quanto a trabalho, dinheiro, posição. Não ligo para isso. Trabalho é prazer e sobreviência para mim, por isso sempre estou feliz com o que tenho. Então chegamos no ponto crucial da lição, antes da prática. Sabendo que ninguém ali é monge ou candidato a iluminado, discutimos o apego ao Eu e como ele é necessário para as mães no momento de exercer o desapego com relação aos filhos. Olhar para si mesma, se dar tempo, importância a nossos outros interesses.
Porém, atingir a iluminação, como Buda, significa libertar-se do Eu. O objetivo mais desafiador consiste no domínio do ego, o inimigo número um do homem. Ainda mais na sociedade consumista, capitalista, desatinadamente competitiva. Mas vale o exercício initerrupto desse específico desapego, vale se conhecer, buscar o equilíbrio. Quando discutimos o código de conduta Brahmachari, uma quase iluminação, identificamos algumas possíveis abstinências que nem são assim tão difíceis, se temos uma conduta ética com relação a nós mesmos e aos outros. Alimentação, relação com a natureza e os seres, valorização e não vulgarização do sexo (até porque lidamos com uma energia de alto poder gerador de vida e de prazer, que deve ser usada com sabedoria) e da espiritualidade, com a qual conseguimos pensar e agir em harmonia com o universo. Para ilustrar o desap(ego) e disseminar o que aprendemos à luz do yôga, peço licença para postar o Narcizo de Vik Muniz, reproduzido (livremente) no Facebook (o famoso Livro Caras do querido amigo Marcinho).

Bailo comigo

As liras, cítaras sempre me encantaram. Outro dia me pego rodopiando pela sala ao som dessa versão de Norwegian Wood, do Corneshop ( em When i was born for the 7th time) como se fosse Shiva. Ando atrás da escola de dança que me fará voltar a a praticar, desde que não seja Clássico, Jazz e nem Afro, não quero dèjá vu.
Em busca de algo mais próximo do agora cheguei a me empolgar outro dia numa apresentação de Flamenco com uma conhecida de quem descobri essa faceta na excelente performance. É forte, belo, carregado de sentimentos, mas com muito sangue quente nas veias para meu momento. Can-can, a dança francesa dos desenhos da Disney e filmes de western é aeróbica demais para os meus propósitos, mas vale uma aula experimental (só não consegui ainda encaixar na rotina de três turnos).  Equanto isso, me permito ser autodidata, com adaptações aos passos e sons que me divertem pacas. 

terça-feira, 18 de maio de 2010

Um dia feliz e nada raro


O gotejar dos céus na janela do meu quarto me despertam lentamente, prolonga mais um pouco a confortável permanência debaixo do edredon neste dia cinza, prateado de tamanha alegria. Pelo simples fato de que a vida é entusiasmo, é motivo de celebração a cada minuto. Minha mestre yoguini nos conduz à meditação, observamo-nos internamente e valorizamos algo tão acessível e compensador: o ar. Os pingos da chuva guiam meus pensamentos. Eles caem devagar, se esparramam no chão, seguindo em veios, fluindo como as águas de um rio. Ao meu lado, minha pequena Buda adormecida nem percebe que partimos do relaxamento para a meditação. Sempre é tão grande o seu empenho nas posturas, que ela completa a sonequinha matinal. Já estamos acostumados à cena: como uma flor de lótus, a menina repousa ali, no colchão, serena, linda, pequenina e inocente como um passarinho. Grata pelo amanhecer deste dia, pelos instantes que se seguem, dedico minha prática de hoje à Marina (fiel escudeira, outra flor) presente da vida para mim, a taurininha da Preta (parabéns pela filha maravilhosa que você criou).
Tua existência comemoramos com alegria nesta data querida, Marina. Que seja rica e longa a tua jornada! Ao meu anjo também sou grata pelas asas com as quais alcanço o sol a cada amanhecer, saudando o astro rei, ali escondido atrás das nuvens a iluminar esse dia chuvoso. Namastê!

domingo, 16 de maio de 2010

Aberta a temporada das sopas

Lá na minha Sinhá Saúde cantávamos com os pequeninos o hit do cd da Adriana Calcanhoto, enquanto a tia Neide ensinava a "passear com a colher" no prato para esfriar a sopa. A cada "quem não diz ave! Quem não diz eia! Quem não diz, opa! Que bela sopa..." era um tal de respingar caldo no amigo ao lado, porque eles levantavam as colheres como quem brindasse o jantar. O frio chegou e eu andei revirando o livro de receitas do restaurante infantil para montar nosso cardápio das noites de inverno. Abri a temporada com a preferida da minha filha, a Minestra com massa de letrinhas (cada vez mais difícil de se encontrar nos supermercados). Mas a Rosane (a competente e carinhosa nutricionista da Sinhá Saúde) deixou registrado nesse livro um belo repertório de cremes e caldos, todos nutritivamente saborosos. Quando a gente ouve a música da Calcanhoto, naquela parte sobre os tipos de sopas, de osso ou aveia, a ferver na panela cheia, não se anima muito. Mas esses são só ingredientes que, como em todo prato, dependem daquele segredinho básico para ficar superbe!
A aveia nem aparece, só acrescenta saúde, osso dá sabor e sustança, creme de leite ou requeijão encorpam a abóbora bem amassadinha com ervas, a mandioquinha (aqui é batata salsa) e dali sai um atraente consomê. Hummmmm, me dá até uma fominha. E olha que nunca fui muito de sopas.
Taí um prato do qual aprendi a gostar.
Lembro de quando eu era criança e minha mãe fazia uma espécie de ratatouille (ela chama de sopão de legumes) uma vez por semana, pelo menos.
Neste dia eu já sabia que teria de negociar com meu irmão. Ele comia o dele, enquanto eu enrolava, até nossa mãe sair da cozinha. Então trocávamos de prato e ele me salvava do dia do sopão.
Depois eu dava um jeito de forrar o estômago sem ela perceber. Quando minha mãe nos apresentou o creme de ervilhas com linguiça paio e bacon, aí já gostei. Meio parecido com o feijão dela (que eu amo!) foi fácil aderir, embora ela não desistisse do ratatouille.
Só que filho é assim, na casa dos outros come tudo o que rejeita sem experimentar, contrariando as mães. Nossa vizinha fazia o mesmo sopão da minha mãe, porém batia no liquidificador, ficava tipo um creme. Eu me lambusava, repetia, elogiava. Assim fui descobrindo que minha implicância era com aqueles legumes todos ali, expostos. Raramente as crianças se encantam por legumes e verduras, adultos tampouco. Aceitam obrigados pelas dietas médicas ou estéticas. Tem até aquela canção do Palavra Cantada que diz: "Mas tem sempre alguns legumes, que não sei como eu engulo".
Pois na Sinhá Saúde ganhamos os pequeninos apostando nos cremes, como a minha vizinha fazia. Para estimular a aceitação dos legumes e verduras, quando visíveis, misturávamos massas divertidas, como letrinhas, conchinhas, argolinhas, minhoquinhas.
Uma vez até estrelinhas eu achei nas minhas andanças pelos supermercados. Ainda hoje prefiro cremes, consomês, mas também sei apreciar um belo cozido, com grandes pedaços de abóbora e até batata doce! Tinha um  bloqueio com relação a ela e hoje como com melado. Isso devo aos meus clientes-mirins. Muitas vezes tive de experimentar antes deles, para incentivar a degustação. 
Por falar em frio e sopas, minha amiga Isa tem um lindo trabalho lá no ABC Paulista. Com a mãe e um grupo de voluntários, prepara e serve sopa para moradores de rua, aquecendo a barriguinha e o coração de muita gente. Grande alma a da Mulher Maravilha. O nome da minha filha escolhi em homenagem a ela, essa pequenina grande pessoa que para sempre estará comigo, independentemente dos quilômetros que nos separem. Câmbio, Mulher Maravilha. Mulher Gato desligando.    

We don't need a revolution

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O sol dos meus dias

Nesta semana a escola de inglês da minha filha preparou uma homenagem para as mães. Nem aí para os comentários ácidos de rabujentos sobre o delay da festinha, que em nada me roubaria a emoção de todos os anos ver minha filha demonstrar seu afeto por mim, saí em busca da mensagem dela pra mim. Uma parede cheia de desenhos e frases desafiava minha capacidade de encontrar o que era dedicado a mim. Não demorei nem um minuto para derreter diante do desenho pintado e contornado com canetinha ao lado do enunciado da escola "Happy Mother's Day". Surpresa mesmo fiquei com o momento que ela escolheu para descrever na homenagem, algo emocionamente que vivemos juntas. "Mamãe, eu gostei que você foi na Fire Whip do dia que você, bom deixa pra lá...Te amo!"
Deixa pra lá, eu acho que é porque o dia em que a sua mãe com medo altura e aventuras radicais encarou, pela primeira vez na vida, uma montanha russa era o do aniversário dela. Fomos comemorar no "melhor lugar do mundo", o parque Beto Carrero World. Parei diante daquela monstruosa armação cheia de loopings assustadores e decidi que era a hora de me dar essa chance e, talvez, presentear a minha filha com um ato de superação, coragem. Lá fui e tinha de ser logo na maior montanha russa da América Latina para valer a entrada no meu livro de recordes.
Encontrei na fila uma menina que me deu dicas do tipo: - mantenha sua cabeça firme no encosto, não feche e abra os olhos repentinamente para não enjoar e grite muuuuuuuito. Sentei ao lado dela, que gentilmente segurou minha mão antes da partida. Foram uns 40 segundos indescritíveis. Minha prática de respiração antes de despencar foi importante, mantive a calma dentro do possível. Acho que fui tranquila até demais para quem não subia nem na escada para trocar uma lâmpada. Descabelada, sem um dos meus estimados brincos, feliz e anestesiada me desatei do aparato de segurança pronta para a próxima aventura.Vou saltar de parapente.
Ah, sim, este post termina com uma canção de um disco que amo do início ao fim, Talking Book, de Stevie Wonder. A homenagem da escola de inglês fechou com ela e sua colegas de turma cantando para as mães "you're my sunshine, my only sunshine...please don't take, my sunshine away". Me fez lembrá-la de que ela é meu sol que brilha todos os dias também. You are the sunshine of my life é um dos Temas da Barriga, seleção de músicas que eu ouvia e cantava durante a gravidez e até hoje tem preferência no nosso soundsystem.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

So (mente) desejar



Um longo e lento inspirar enche meu corpo. Vejo e sinto, posso pausar, reter por alguns minutos o ar e essa cor reluzente e aparente que meu corpo inteiro percorre. Nenhum pensamento se fixa, eles vão e voltam. A luz segue pela corrente sanguínea, invade minha mente calma, toma meu ser, minha alma. A cor  é verde, linda, me encanta, transborda esperança, paz, amor. É como o despertar de uma força evolutiva, aquela que até então permanecia à espera do poder transformador. Os verdes feixes de luz e o desabrochar do novo ser em mim. O ar, a respiração, a imagem fixada na mente, a lembrança de um breve, porém eterno encontro. A luz é etérea, é sua e minha também. A energia flui e o tempo passa sem nada ansiarmos, apenas desejarmos.
Ensinamentos (y recuerdos) valiosos de Shuryu Suzuki (Suzuki Roshi) e de outros mestres destes com os quais a vida nos brinda ao longo da jornada.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Sobre seres iluminados

Deus, obrigada pela minha mãe.
Mãe, obrigada pela minha vida.
Vida, obrigada por me tornar mãe.
Filha, obrigada por me escolher.
Amigos, obrigada pelas lindas mensagens, abraços e presentes. Aproveito para dizer a todas as mães que somos um valioso instrumento da vontade divina, veículos de acesso à existência, esse raro presente dos céus.
Se sou uma "estrela linda", isso ainda não sei, meu gentil amigo. Só sei que persigo a luz.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Turismo de sensações

Meu passaporte tá vencido, mas embarquei para Espanha e seus destinos deslumbrantes com filmes exibidos por David Cooper na abertura do Tour Film Brazil, que começou nesta quarta-feira (6/05), em Florianópolis. Madri, Segóvia, Guadalupe (na região de Extremadura) Castilla em até cinco minutos de películas muito bem roteirizadas e dirigidas despertam o desejo de viajar agora mesmo. Dos aspectos geográficos, à cultura, tudo desperta sensações pelas câmeras subjetivas e outros truques aplicados pela nova tendência em "vender" o turismo no mundo. Os destinos mais competitivos já perceberam que a internet e a tv paga são as mídias mais eficientes para acertar o alvo: viajantes auto-organizados, aqueles que planejam e compram seus roteiros pela prateleira de consumo que mais cresce neste setor. As agências de publicidade dormem no ponto ao permanecerem presas ao modelo ultrapassado de comunicação atrelada ao ganho com as veiculações na mídia de massa. Não que uma invalide a outra, mas é preciso sair um bocadinho do trivial. No competitivo mercado de viagens e turismo, Cooper assinalou o que papas da comunicação de marca no Brasil, como Jaime Troiano, falam há muito tempo: o cliente não investe mais sem conhecimento de retorno. O nome técnico disso é ROI - Return On Investiment - algo que lá por 2000/2001 entrou na pauta dos marketeiros e virou uma pedra no sapato dos publicitários, não habituados a levar planilhas para reuniões com clientes. Acontece que as grandes marcas passaram a exigir relatórios que comprovem a eficácia dos recursos investidos na comunicação, com percentuais, sobretudo cifras. David Cooper, premiado por filmes de turismo da Espanha diz que os destinos mais profissionais do mundo não brincam em serviço. Então, apresentou as películas premiadas que arrancaram suspiros, além dos aplausos da platéia em Florianópolis e abriu planilhas para mostrar que cada Euro investido em um filme turismo, exibido na internet e em canais pagos, equivale a 41 Euros pagos para veiculação de peças em mídias de massa, sem atingir objetivos esperados. Cooper diz que entrega no pacote das suas produções (Videon) os resultados também dos filmes sobre aspectos como aumento de visitantes após a promoção do destino, geração de empregos no setor, entre outros recortes.
"O viajante do futuro é jovem", argumentou o produtor a favor da mídia web, amparado pela constatação de que o turismo é uma atividade crescente no mundo e tende a influenciar cada vez mais as economias dos países, tornando-se um hábito de consumo das próximas gerações até pela consciência do ser humano sobre a importância do equilíbrio entre trabalho e ócio (para o bem estar), vida e conhecimento. Os filmes de Turismo são veiculados em canais internacionais, promovem os destinos para viajantes qualificados pela audiência paga. Mais do que a qualidade técnica (3D e outras vedetes do momento nas produções audiovisuais), o grande apelo dos filmes de turismo é a penetração em mercados estratégicos, a visibilidade que oferecem aos destinos pela exibição e possível premiação em festivais mundo afora. É ver para crer.