segunda-feira, 31 de maio de 2010

A saudade, as maçãs e o vinho

Longe de casa, há mais de uma semana, milhas e milhas distante do meu amor. Será que ela está me esperando? Eu fico aqui sonhando, voando alto, bem perto do céu...
Ela estava, como sempre, com uma beijoca cheia de saudade, do tamanho da que eu senti todas as noites ao deitar sem minha pequenina e ao acordar sem ter de preparar seu leitinho e chamá-la 557 mil vezes para sair da cama. Da terra da garoa sinto falta, adoro a rotina agitada, gosto dos estranhos solidários da cidade grande, dos amigos que são para sempre (não briguem comigo porque não deu tempo de nada nesses dias de feira, meus queridos e queridas) das possibilidades, das conectividades. Mas estar de volta à minha casa, ter a pequena Buda nos braços e ler seu cartãozinho de boas vindas é melhor do que tudo isso. Esta é a parte gostosa da vida, amar e ser amada. Para abrir a semana que merece ser leve, com descanso e paz, uns posts atrasados da press trip com O Globo pela serra catarinense, antes do embarque para o Salão do Turismo.

******

Os japoneses são responsáveis pela cultura da maçã em São Joaquim, na serra catarinense. A presença deles está registrada não só nos pomares que movimentam a economia local, mas no monumento da praça central na cidade da neve. Destino indutor do turismo de inverno no Brasil, São Joaquim tem na igreja matriz duas esculturas "escondidas" lá nos fundos da construção em pedra, Adão e Eva experimentando o fruto da terra,  o que lhes custou a expulsão do paraíso. Este é um pomar do tipo Colha e Pague, ao longo da serra e estas são maçãs Fuji, a espera da colheita que vai até junho. Dos dez tipos de uvas (oito tintas e duas brancas) cultivadas no alto da serra, onde o clima é frio e seco (embora também chova, com a frequência necessária para o cultivo das tintas, que exigirem maior tempo de maturação) São Joaquim extrai o vinho tinto, branco, rosé (o mesmo que Madonna provou e teria levado em sua última estada no Brasil) de excelente qualidade. São os vinhos de altitude, com uma característica da Villa Francioni, que é de produzir em corte, ou seja, utilizar dois tipos de uva em um mesmo vinho. Quem explica ( e eu espero ter entendido corretamente) é o expert Orgalindo Bettu, enólogo da vinícola-grife da serra catarinense. Natural de Bento Gonçalves, cresceu entre os parreirais e vendo o pai produzir o mais apurado artesanal com maestria. Sereno como todo apreciador da bebida e humilde para quem detém admirável domínio sobre o tema, Bettu não lembra do seu primeiro gole. Mas nos ensina, como quem conhece desde o ventre, a apreciar a bebida em uma deliciosa degustação prevista no final do roteiro de visita à vinícola oferecido a turistas em São Joaquim.  Confesso que, a cada troca de taça, me custava esvaziar tudo no recipiente diante de mim e aguardar o próximo. Tão precioso líquido, despejado assim...fui logo querendo saber como era a degustação a cada 15 dias lá na linha de produção. Sim, porque haja vinho para manter ali nas barricas 225 litros, capacidade para fabricar 300 mil garrafas/ano (fazem metade hoje).



A paisagem em  300 hectares da vinícola, a mil metros de altura é o começo do nosso roteiro, observando a grandiosa construção em tijolos recicláveis, com aberturas em vitrô, idealizada por Manoel Dilor de Freitas. O passeio acontece desde a galeria de artes, onde já estiveram expostas obras de artistas como Camille Claudel e outros que integram o acervo de Lily Marinho (ela está fotografada entre tantos outros famosos conhecedores da bebida convidados para as degustações da Ville Francioni). No piso onde a uva se processa, vira vinho e é engarrafada toda a produção da VF, obras em mosaico de Rodrigo de Haro (o pai, Martinho, era joaquinense) promovem a integração entre o prazer de beber um vinho de boa qualidade (prometo que depois desse dia nunca mais reclamo de preço, agora que sei que uma simples rolha pode custar R$ 5,00, garrafas e barris são importados e bem caros. A média de preços da marca é de R$ 50,00) e o de observar a arte na parede. O sexto e último nível de maturação dos vinhos é escuro, com temperatura de até 18 graus, o lugar que Bettu chama de "coração da vinícola" tem cheiro acentuado de vinho e não mais do carvalho das barricadas. Lá os barris estão arranjados em pirâmides. Os tintos amadurecem nas barricas, depois nas garrafas, ensina o enólogo. Dentre os brancos, somente o Chardonnay carece desta etapa na garrafa. Lá tivemos o prazer de conhecer a mais nova criação de Bettu, a champagne VF que deverá ser lançada em 2011. Na foto, ele nos mostra como funciona o método de maturação do vinho na garrafa chamado champenoise, desenvolvido lá pelos idos de 1600, quando Don Perignon descobriu a fórmula dos espumantes. Curiosidade que Bettu nos acrescenta, ao permitir que degustemos a novidade: quanto menor e mais delicada a perlage, mais qualidade tem a bebida com a qual celebramos a vida. À noite, na residência anexa, disfrutamos de um delicioso jantar serrano protegidos pela calefação e bebemos mais um pouco do melhor de todos, ouvimos música, papeamos. Agora bem mais ousados, sabendo o que falar ou pelo menos testando a paciência de nosso sábio Bettu, a nos maturar a cada lance depois de misturarmos o líquido, percebermos o buquê, segurarmos o primeiro gole na boca e dispararmos nossas opiniões. Grazie, Bettu!

Um comentário:

Cristiane Fontinha disse...

Menina,
te mandei um e-mail. Olha no uol.
Beijocas.