quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A natureza é sábia

Tem coisas que não mudam. Pode o ser humano evoluir, adaptar normas de conduta aos novos tempos, mudar hábitos, mas existem as características imutáveis para cada etapa da vida. As das crianças são as que me ocorrem por ora, já que tem uns 15 dias que só ouço a minha dizer: - mãe, tá chegando o Dia das Crianças. É como querer que criança não faça sujeira, nem bagunça, nem cometa traquinagens a gente desejar que elas tenham consciência de que o quarto delas já tem muito mais brinquedos do que deveria. Só quem é mãe ou pai sabe o quanto é difícil convencê-los a doar alguns deles, sempre que algo novo chega. A gente apela até para o senso de organização, afinal é desesperador ver a o quarto deles na maior bagunça e não ter mais onde guardar trecos. Para mim isso é tão sério, que me declaro contra os brindes de fast food. Tá doido, quanta tranqueira acumulada. Sim, porque eles não brincam com essas coisas. Na hora de doar brinquedos, é cada desculpa esfarrapada, que chega até a ser engraçado.  - Mãe, mas esse boneco foi o meu primeiro de quando eu tinha três anos!  - E daí? Penso em responder ao argumento, apropriando-me da gíria do momento entre os tweens. Nada pode ser mais irritante do que ouvir esse "e daí?" acompanhado daquela expressão de sabichão independente que eles fazem.
É nosso dever educar os pequenos para o consumo, é ainda mais importante darmos o exemplo. Aí que mora o dilema. Assim como é do ser criança uma série de coisas como querer brinquedos em exagero e dar respostas espertinhas, é de ser pai em eterno aprendizado cometer os tropeços mais tradicionais. De vez em quando eu ouço: - Ué, mas você me disse que a gente só compra aquilo que precisa... você já não tem isso, mamãe?
Ô, meu pai, que vontade novamente de dizer:  - E daí? Mas eu não digo, claro. Respiro, penso e sigo firme no propósito de educar:  - Você tem razão, eu não preciso disso agora. Seria um ato de consumismo, filha.
 E obrigada por me lembrar disso.
Bom, eu acredito que assim eles aprendem e adquirem mais confiança ao saber que adultos também derrapam. E o melhor: entendem como é possível mudar, optar pelo que seria correto. Outro dia li num link a partir do Twitter uma matéria na qual o fabricante de um produto ou um grupo deles tachava o Instituto Alana de mau. Dizia que a Ong não gostava das criancinhas porque pretendia cercear o direito de ser criança, de comer besteira, de desejar brinquedos da moda e tal. Sabe que fiquei intrigada com isso? Não a ponto de concordar com tal afirmação superficial sobre o trabalho de estudiosos sobre mídia, consumo e educação, que vai muito além disso de supostamente tolher a infância e o que dela faz parte. Muito pelo contrário. Os pais de hoje são empurrados para uma rotina na qual delegam quase tudo sobre o ato de educar a alguém ou a alguma instituição. Não me pergunte o que os leva a isso porque direi o óbvio: mulheres no mercado de trabalho (ainda bem!), o anseio pela segurança material, a busca inconsciente sobre vários aspectos, o que é da natureza humana e o consumismo, por que não? Pronto, voltei ao início de tudo: o homem natural. Entre o homem natural e o homem espiritual, ainda me sinto no meio, um tanto camaleão. Ora natural, ora espiritual,  tento fazer as melhores escolhas. Acho que a tendência é tornar-me apenas um deles, com o passar do tempo. Naturalmente o tempo me levará para o espiritual. Porque é essa a tendência das pessoas, quando amadurecem. Ainda a caminho de lá e envolvida num trabalho de pesquisa sobre a propaganda brasileira, enquanto sou assediada por minha filha para o Dia das Crianças, mergulhei no meu passado de infante consumista e encontrei um velho bordão slogan. O comercial, pelo que consta, foi criado pela DPWZ, que depois se desmembrou em DPZ e W/Brasil, nos anos de 1980. A gente não só bombava isso nos ouvidos dos pais como também seguia a dica dos reclames, fixando bilhetinhos de "Não esqueça da minha Caloi" por todos os cantos da casa. Genial.