quarta-feira, 24 de março de 2010

Is not a toy!

Atropelada pela rotina, deixo minha programação da semana fixada em quadradinhos de papel na mesa de trabalho, na capa de uma agenda que carrego na bolsa ou presa por imã na geladeira. Só percebo quanta coisa não pude fazer lá pela sexta-feira.  E sempre são as coisas mais legais, como a estréia de Luiz Henrique no Balanço do Mar, o filme da Ieda Beck, ali no Centro, promovido pela Cinemteca Catarinense no Centro de Floripa e eu não pude ir. Tudo bem, oportunidade não faltará para ver o manezinho bossa nova sob o olhar dessa brilhante cineasta catarinense que partiu há dois anos.
Moro aqui perto da curva onde Luiz Henrique (também) se despediu da vida, depois de grandes aventuras pelo Brasil e o mundo, só no banquinho e violão. Minha filha já tem a história do artista na ponta da língua, conta sempre que falamos o nome do nosso condomínio para alguém (é uma homenagem a Luiz Herinque Rosa). Sabe também que o trabalho dele, quando retomou a vida na Ilha, era ali na frente, no Armazém Vieira. Inclui tudo isso no seu script sobre o artista. Ontem, feriado (a escola já não funcionou na segunda e deixo aqui  meu protesto de mãe trabalhadora!) ela encontrou Luiz Henrique ao percorrer a feira de integração multicultural catarinense ali no Centrosul comigo.
 - Mamy, olha o Luiz Henrique Rosa!
Fiquei impressionada com as reações dela ao deparar-se com o que já conhecia, de leituras, vivências e do aprendizado na escola.
 - O Cruz e Sousa! Não sabia que ele era assim.
 - Isso é uma Nau, você sabia Mamy? Só que essa não é das maiores.
 E o Meyer Filho, a baleia Franca, os cânions, o zoo de Pomerode, o traje típico alemão, a Festa do Divino, os bailarinos do Bolshoi. Ela deu um show, poderia bem ser monitora da mostra.
 Parou diante do inseto e perguntou (não teve paciência para ler o painel, claro)
 - O que esse grilo gigante faz aqui?
Era  o entomologista Fritz Plaumann (que fez Seara tornar-se uma referência no estudo de insetos). Resumi a história  para ela e esperei pela réplica.
 - Ah, legal.
Pareceu que tudo o que falei ou mostrei foi nada. Realmente muito pouco interessante naquela hora. Mas sei que ficou o registro, que ela vai puxar o arquivinho, quando a professora chegar nesse capítulo do livro. Corro para cobrir um painel sobre políticas públicas para o turismo e, quando vejo, ela está de caneta e papel ao meu lado, sentada, anotando tudo, exatamente como eu.
 - Você tá copiando tudo da tela, né mãe?
 - Não filha, tô anotando coisas que o palestrante fala pra depois fazer minha matéria, palavras-chave, frases, ideias.
Olhou para meu bloco, caligrafia e sinais indecifráveis, escolheu copiar o que estava projetado no telão. Perdi o controle do que ela degustava saltitando pelos estandes das regiões turísticas (bolachas caseiras de montão!) carreguei uma megasacola de brindes, cupons para concorrer a viagens, tudo o que ela recolheu na feira de turismo. Ajudou os colegas da sala de imprensa a acessar o computador, que obviamente já havia fuçado e, portanto, sabia que não carecia de senha para entrar. Ensinou o atendente do quiosque de comida típica italiana o que era molho a matriciana (ela queria esse no seu talharim, mas só tinham molho a bolonhesa e não sabiam que catso! era esse tal matriciana) e me fez ficar da cor de um pimentão.
 - Agora vamos embora?
 - Você ainda precisa dormir hoje na vovó, trabalho aqui muito cedo amanhã.
 - Só queria saber quando volto a dormir em casa...
Tá vendo filha, essa profissão não é brincadeira.