sábado, 17 de julho de 2010

Tudo sobre minha mãe

Acordei com o interfone. Minha visita agendada me flagrou num típico dia de sábado sem despertador. Tá certo, a gente só tem esse dia pra atender um técnico, levar uma roupa na costureira, mas chovia muito, fazia frio e culpa é o pior sentimento que podemos nutrir. Então, improvisei uma rápida toillete e vupt!
 - Mãe, eu já tô acordada faz tempo, não precisa me chamar.
Bebê-preguiça não quer sair da toca de edredons e eu a compreendo bem. Nesses dias frios levo o todinho quentinho na cama com canudinho na caneca. Não nego à minha filha todo o dengo que minha mãe me deu. Só eu sei o quanto sofri com a primeira crise de amigdalite em São Paulo, quando me vi sem ela pra cuidar de mim. Nunca tinha vivido sem minha mãe, tive de aprender e assim passei a conhecê-la melhor, a valorizar sua presença em minha vida ainda mais. Corajosa e doce, bondosa e sábia, nossa companheira de sempre, minha e de meu irmão, ela abria a casa para nossas festas americanas na época da escola. Foi a todos os shows de heavy metal das bandas do meu irmão, sua churrasqueira era estúdio do terror aos sábados, quando os meninos ensaiavam lá em casa. Passava horas em meus ensaios do balé, me fazia os mais lindos vestidos que eu tirava da caixola para usar modelitos inéditos nas festas de 15 anos das minhas amigas. Um deles tirei do filme com Leo Jaime, era branco de bolas pretas, estilo 60, com luvas pretas rendadas do figurino da estilosa Virgínia,  vocalista do Metrô (nossa, o Ivi vai rir desta).
Minha mãe me realizou quase todos os sonhos, me permitiu viver o que quis, até o que não sonhou para mim. Foi para São Paulo ficar comigo na hora de extrair meu primeiro dente siso problemático. Na maternidade, quando minha filha estava para chegar, ela me evergonhou na frente da obstetra dizendo: - Oh, lá vai meu bebê ter um bebê! Minha mãe é risonha, linda como uma pintura, não me deixa chorar, faz piada de tudo. Me livra de apuros, me encoraja a tudo enfrentar e o melhor sempre esperar. Atura meus destemperos do ascendente Áries. Minha mãe escreveu um rap para a formatura da turma dela na faculdade da maturidade que virou clipe, mas não quer saber de direitos autorais para usarem sua criação nos comerciais da instituição. Minha mãe faz muita comida sempre e diz que você não gostou para convencê-lo a comer mais um pouquinho.
Ela cuida do meu pai como se fosse seu filho. E agora de fato ele o é. Reclama do cansaço, mas não delega esse cuidado a ninguém. Minha mãe é boa, é a mulher que me ensinou que ser honesta, caridosa, verdadeira, corajosa, independente, otimista e que amar a vida, a família e os amigos é o melhor que posso fazer por mim e pelos outros. Outro dia encontrei seu diário e li uns poemas. Descobri como ela escreve bem e criei um blog para ela se ocupar de seus pensamentos ali, toda vez que tiver algum tempo livre na sua lida diária. Mas ela diz que não tem tempo. Assim como eu, quer se ocupar de tudo, mas não dá. Meu sábado começa agora, aqui neste post, depois de botar em dia o que ficou pra trás em uma semana megaocupada, mas cheia de graças.
Por isso segui empolgada no meu sabadão, até dei um trato no mr. fedoreza. Meu cão Pepê é um Fox Terrier pêlo de arame. Há 10 anos, quando o ganhei, li no manual de instrução do cão inglês que não precisava de banhos semanais, pois não fede como as demais raças. Bom, não sei se é porque este nasceu no Brasil, mas precisa de banho toda semana, sim senhor. Do tempo com minha filha, no sossego que tanto me apraz, minha caseirice de canceriana é doidinha por esses dias chuvosos e friorentos. E amanhã é domingo, dia de ver minha mãe e renovar as energias para a semana que vai começar. Que bom.