sábado, 24 de julho de 2010

Mais e melhores sons

As férias escolares mudam totalmente a cidade e a vida, especialmente a de quem tem filhos. Não tenho nada contra as colônias de férias, já fui a uma, nosso hino era Aquarela, de Toquinho, e foi inesquecível. Mas nada pode ser melhor do que passar uns dias na casa dos avós. Conversando com minha pequena Buda, antes do seu embarque para a itinerância de duas semanas longe da rotina da sala de aula, argumentei sobre a felicidade de se ter vovó e vovô. Quando eu era criança, mesmo até adolescência e, confesso que até hoje, senti falta disso. Os maternos perdi muito pequenina e meu avô viúvo amazonense, morando longe, vi quase nada. Cercada pela grande família da minha mãe sempre tive meus dengos das tias cajazeiras, das minhas primas mais velhas, dos meus primos que me contavam histórias de terror e dos bate-bola (ou Clóvis do carnaval carioca) e do meu exército de tios amados, mesmo quando nos mudamos do Rio para Floripa. Só que, quando meus colegas de escola ou da vizinhança diziam "neste final de semana não posso, vou pra casa da vó", sentia vontade de ter uma também.
A mãe da minha melhor amiga de infância (temporão de uma grande prole) era vovó de uma fila de uns doze netos. Então, eu sabia como elas eram. Deixam tudo que as mães não, cuidando com amor, claro. Fazem vontades bobas, mas que a gente valoriza quando é pequeno. Têm tempo, muuuuuito tempo para as crianças, fazem e ensinam tricô, bordado, bolo, boneca de pano, brincadeiras antigas, contam causos da infância delas e dos filhos. Meus episódios preferidos de Caillou são os que ele vai para a casa da avó. Amo a vovó de Piu-Piu e Frajola, a da Chapéuzinho Vermelho (a Pocket da versão moderna Deu a Louca na Chapéuzinho é demais) a Dona Benta e a tia Nastácia, que faz dupla com a sinhá a mimar Narizinho, Pedrinho e até a desmiolada da Emília, a vovó White, da Hello Kitty, o vovô Gepeto, do Pinóquio e por aí segue a extensa lista desses queridos personagens das infâncias da gente, a real e a fictícia. As pessoas de cabelos brancos quase azulados, com pintinhas nas mãos, fala mansa, cheirinho de talco e lavanda e uma paciência de Jó podem nem ter as características físicas, mas sempre serão avós em sua essência.
Sou realizada por minha filha ter os dela, por receber o afeto e a atenção deles, por saborear esta parte boa da infância em família. Confesso também que estou adorando ser minha, só minhazinha nestes dias de férias escolares. Faço questão de acordar muito cedo, meditar, não ligo o som para ouvir os diferentes cantos dos meu companheiros que planam lá da baía até aqui onde estou e dos que sobrevoam os morros que cercam de verde a minha morada. Ouvir os sons do córrego aqui nos fundos e dos macaquinhos saltando entre os galhos das árvores, quando não está chovendo. Gosto de ver o mar espelhado, lá longe o barquinho solitário a espera de quem o conduza para um dia de farta paescaria, de observar as flores nativas que enfeitam meu trajeto até o trapiche todos os dias. Conectada aos mais e melhores sons da vida, produzo a partir da mente as belas imagens de um simples dia e concordo que ter saudade de ouvir "manhêêêêê" até que é bom.