sexta-feira, 9 de abril de 2010

A sabe-tudo ataca novamente


Quando digo que botei no mundo uma pequena Buda, não é só porque ela vive tentando me ensinar a fazer "invertidas" e outras posições desafiadoras de minha atual elasticidade com o que aprende do Ióga. Ontem me contava a lenda de Shiva.
Hoje pela manhã, naqueles episódios diários de educar os filhos, recorro a uma cassação do direito de uso do computador por um dia. Foi por causa de uma resposta malcriada que ela teria me dado.
 - Mas por que  mamãe?
  - Ué, porque você foi malcriada. Disse tal coisa.
 - Não, eu não disse. E não posso ser malcriada porque sou criada por você! (ai, que fofa!)
 - Você disse sim, eu ouvi!
 - Não, eu disse "já fiz a lição hoje."
 - Jura? Então me desculpe.
Relembro a lenda de Shiva que ela me contou na noite anterior e extraio dali duas lições, para cada uma de nós.
- Mãe, o Shiva foi meditar lá no topo da montanha e não percebeu que ficou por 20 anos sem dar notícia para a esposa. Aí, quando voltou, um moço abriu a porta da casa para ele. Shiva puxou a espada e cortou a cabeça do moço, porque achou que ele era o namorado da mulher dele. Só que não era. A esposa veio e contou que o moço era o filho deles (Lord Ganesha) que nasceu e cresceu enquanto o pai estava sumido. Foi então que os amigos do Shiva ajudaram ele. Cortaram a cabeça de um elefante (ai, que dó!) e deram para ele colocar no lugar da que tinha decepado numa atitude precipitada (embora nada justifique cortar a cabeça de alguém, acho eu). Assim o filho dele viveu com uma cabeça de elefante.
Aprendi a ouvir (bem) antes de reagir.
 - Filha, quando os pais, os avós, a professora estão nos educando, ensinando o certo, não devemos retrucar, responder com afronta. Aliás, não devemos agir assim com ninguém, nem com os amiguinhos. Ou eles podem devolver da mesma forma, até pior. Tem um ensinamento budista, numa canção chamada Desapego, dos The Darma Lóvers, que diz: "minha voz é parte do teu ouvido, quando a palavra sai bem..."
Aprendeu a respeitar para ser respeitada.
  

Não é Cosme e Damião, mas tem doce para todos

Do blog do Fifo (http://cine-luz.blogspot.com/) vem a dica para não perdermos Doce de Coco em exibição pelo estado neste mês e no próximo. O filme de Penna Filho será exibido gratuitamente em 25 cidades catarinenses a partir de 8 de abril e entra em cartaz no circuito nacional em 14 de maio, em São Paulo. Mais um pouquinho e eu estaria lá na platéia, bem orgulhosa, já que desembarco na metrópole no mesmo mês para o Salão Nacional do Turismo.
Porém, o que motiva este post, mais do que a curiosidade para ver essa nova produção catarinense, é o fato de, tanto as exibições em Santa Catarina, quanto a nacional, pelo sistema digital e em película, integrarem o projeto “Cinema Para o Povo Sem Tela”, apoiado pelo Funcultural - Fundo Estadual de Incentivo à Cultura. Inicitiva e tanto essa, porque o que fazemos tem de circular, o contribuinte catarinense deve ter acesso à produção que ajuda a financiar, não é mesmo? A recente Mostra de cinema Brasil-Alemanha (Diálogos em Cena) também foi itinerante e gratuita. Para quem não sabia ainda, o Fundo Estadual de Cultura incentiva a Maratona de Cinema de Santa Catarina, um projeto com quatro anos de estrada. A tela itinerante já levou cinema para mais de 200 mil pessoas, em cidades onde as salas de projeção nunca existiram, foram extintas e, sobretudo, onde a população não pode pagar pelos ingressos ou pelas locações de vídeos. Nágela Fadel, que criou a Maratona e executa o projeto com a ajuda de um assistente (dirige o carro, monta a tela e improvisa cadeiras em praças públicas, salões paroquiais, ginásios de esportes, escolas públicas e associações de moradores) diz que hoje as cidades ligam perguntando quando a Maratona vai passar. As sessões são por faixa etária, bem como a seleção da programação (blockbusters, curtas e longas catarinenses, docs, filmes nacionais e estrangeiros). Algumas aniações já exibidas na Mostra de Cinema Infantil, até onde soube, foram incluídas nesse circuito quase mambembe, bem ao modo Bye Bye Brasil, e a criançada do interior deve ter adorado conhecer personagens e narrativas diferentes, de autores outros países. Os idosos também comparecem em peso, segundo os relatos de Nágela. Muitos até colocam a melhor roupa para "ir ao cinema", é realmente um dia diferente em suas rotinas. Isso não tem preço para quem faz arte ou mesmo acredita nela como meio de inclusão, de educação ou de simples lazer.

Voltando ao Doce de Coco, estou ansiosa para ver o Ribeirão da Ilha, lindo cenário histórico de Florianópolis, na comédia dramática sobre uma família de classe média em um país em crise financeira. Ainda mais que fala de gente que não desiste, nem afrouxa diante de dificuldades, como a sacoleira Madalena e seu marido Santinho, artesão sacro que lutou contra a ditadura militar. Em vez de pipoca, quero comer doce de abóbora com coco que só minha mãezinha faz pra mim. Hummm, bateu o desejo, vou ligar agora mesmo pra ela e fazer a encomenda.