quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ser real é...

Segundo os "especialistas", as mulheres reais são as mais legais. É a vizinha da casa ao lado, com alguma barriguinha e muitas coisas em comum entre todas as reais: esquecer sempre algo na hora de sair. Nem aterrisa e já aperta o botão do elevador, marcando seu inevitável retorno ao andar de origem em busca de algo tão indispensável. As mulheres reais e comuns reviram bolsas que mais parecem o Maracanã em dia de Fla-Flu, atoladas de pertences necessários e (90%) desnecessários atrás de algo que ficou na outra, a que usou ontem. Sou real até onde sei mas, às vezes, invento moda. Fui pedalar nesse domingo ensolarado ali na ciclovia à beira mar e descobri que os reais precisam aprender a rir de si mesmos. Foi o que fiz. Empolgada com a liberdade de um dia inteiro só para mim, comecei com longos alongamentos na academia a céu aberto. Depois ajustei as marchas da bicicleta e dei a largada. Que delícia a liberdade de pedalar ao vento, acelerar e ziguezaguear pela pista distante dos carros aloprados na avenida. Tudo estava perfeito, até que minha aventura começou a virar, como o vento.  Quem se exercita até três vezes por semana aguenta. Como (ainda) não alcancei tal disciplina, é claro que já estava sentindo os músculos das pernas reclamarem no meio do trajeto. Nisso passa por mim um ciclista, depois outro, mais um, equipado com tudo que um atleta de verdade usa para as suas melhores performances. Comi poeira, até pensei em pedir uma ajudinha, porque a volta, contra o vento, começava a deixar a brincadeira meio sem graça. Já não eram só os músculos das pernas, mas o bumbum incapaz de permancecer no assento, os olhos ardendo, o fôlego chegando ao fim. Nem com a marcha mais leve resolvi o problema, o vento me puxava para o sentido contrário, meu esforço nas pedaladas que mais pareciam funcionar em câmera lenta era o mesmo que nada. Até que uma gaivota me ensinou um truque. Passou por mim vencendo com facilidade as rajadas, enquanto eu ofegante decidia se fazia ou não um pit stop no trapiche. Nunca subestimo o mar, muito menos me afasto da orla para afrontá-lo lá nas profundezas do reino de Netuno num dia de fúria.  Imitando a ave, posicionei o tronco paralelamente ao guidom e pedalei a toda velocidade. De volta ao ponto de partida, desabei na pracha de abdominal e ali permaneci desfalecida por uns 30 minutos. Só pensava na segunda-feira, em voltar a ser a moça sem a pretensão de exibir os músculos em volta do umbigo e feliz. Aí  voltei para casa e li na edição de domingo sobre o ciclochique, a nova onda de ir e vir de bicicleta e substituir a rotina estressante e poluente de carro por uma que libere endorfina e, de quebra, obrigue ao exercício diário. Achei bacana, espero que realmente a moda pegue. Quando visitei Amsterdã, achei o máximo ver as pessoas de terno e tailleur no ciclotrânsito da cidade das casas-barco. No recente seminário de turismo regional aqui no extremo Sul do estado, vi a apresentação do case de cicloturismo do Vale Europeu catarinense e, desde então, desejo fazer esta trip sobre duas rodas. Mas só depois que eu me recuperar da traquinagem desse final de semana e de comprar uma bermudinha dessas com amortecedores de gel. E para aderirmos ao ciclochique na cidade, a Prefeitura vai ter de concluir as ciclovias existentes e fazer tantas outras. Também teremos de inventar um jeito de chegar cheirosos e penteados nos lugares num dia de muito sol e vento ou simplesmente apostar no real way of life.