quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Cadê meu nariz?

Ontem soube dos preparativos para o Encontro Nacional dos Palhaços, na Câmara Federal, em Brasília. Nem pensei em disputar espaço com essa pérola na coluna do jornal estadual, no contato diário com o colega da redação. Imagina, piada pronta do tipo imperdível. O encontro sugerido por políticos prevê a instituição do Dia Nacional dos Palhaços como objetivo final, embora se justifique pela pauta de discussões sobre as demandas da profissão desses sorridentes personagens que aprendemos a amar desde a infância. Alegres por ofício, tristes pelo descaso e pela própria natureza do clown, centenas deles estarão lá na capital do governo brasileiro, formando a claque dos verdadeiros artistas desse picadeiro. Certa vez conheci o Carequinha, sem fantasia, e não achei graça nenhuma no que seus olhos expressavam ao falar da vida, da carreira. Não maldava as brincadeiras "E o palhaço o que é? É ladrão de mulher!" que moralistas e chatos hoje condenam. Aliás, educadores e psicólogos igualmente repudiam os ensinamentos praticados pelo palhaço com  canções como "O bom menino não faz pipi na cama..."
Os tempos são outros, nossos pais acham isso tudo uma frescura dos modernos e informados pais e seus especialistas de plantão em consultórios, nas escolas e nas revistas de pais e filhos. Sei lá, Carequinha me parecia bacana, mas era  um cara sofrido, tinha problemas, defeitos e virtudes por trás daquele sorriso pintado na cara, como muitos com os quais convivemos ou esbarramos por aí.
Em 1999, ainda em São Paulo, entrevistei o marketeiro-auto ajuda professor Marins. Adivinha o que ele me deu? Um nariz de palhaço, o mesmo que virou sua marca registrada de protesto contra os abusos praticados pela empresas e marcas para com os clientes e consumidores em geral. Nunca usei o acessório, mas não me livro da sensação de que deveria sacá-lo da bolsa de vez em quando. Só que as mazelas sociais, a política, uma embalagem na prateleira com a validade vencida, o taxista metido a esperto, a mensalidade escolar paga no período de férias, nada me tira o prazer de abrir meu vasto sorriso todos os dias. Nem de soltar uma sonora gargalhada, no meu melhor estilo. Por isso, palhaços reunidos em Brasília sorriam porque é melhor ser alegre que ser triste. A alegria é a melhor coisa que existe. É assim como a luz no coração.