domingo, 16 de maio de 2010

Aberta a temporada das sopas

Lá na minha Sinhá Saúde cantávamos com os pequeninos o hit do cd da Adriana Calcanhoto, enquanto a tia Neide ensinava a "passear com a colher" no prato para esfriar a sopa. A cada "quem não diz ave! Quem não diz eia! Quem não diz, opa! Que bela sopa..." era um tal de respingar caldo no amigo ao lado, porque eles levantavam as colheres como quem brindasse o jantar. O frio chegou e eu andei revirando o livro de receitas do restaurante infantil para montar nosso cardápio das noites de inverno. Abri a temporada com a preferida da minha filha, a Minestra com massa de letrinhas (cada vez mais difícil de se encontrar nos supermercados). Mas a Rosane (a competente e carinhosa nutricionista da Sinhá Saúde) deixou registrado nesse livro um belo repertório de cremes e caldos, todos nutritivamente saborosos. Quando a gente ouve a música da Calcanhoto, naquela parte sobre os tipos de sopas, de osso ou aveia, a ferver na panela cheia, não se anima muito. Mas esses são só ingredientes que, como em todo prato, dependem daquele segredinho básico para ficar superbe!
A aveia nem aparece, só acrescenta saúde, osso dá sabor e sustança, creme de leite ou requeijão encorpam a abóbora bem amassadinha com ervas, a mandioquinha (aqui é batata salsa) e dali sai um atraente consomê. Hummmmm, me dá até uma fominha. E olha que nunca fui muito de sopas.
Taí um prato do qual aprendi a gostar.
Lembro de quando eu era criança e minha mãe fazia uma espécie de ratatouille (ela chama de sopão de legumes) uma vez por semana, pelo menos.
Neste dia eu já sabia que teria de negociar com meu irmão. Ele comia o dele, enquanto eu enrolava, até nossa mãe sair da cozinha. Então trocávamos de prato e ele me salvava do dia do sopão.
Depois eu dava um jeito de forrar o estômago sem ela perceber. Quando minha mãe nos apresentou o creme de ervilhas com linguiça paio e bacon, aí já gostei. Meio parecido com o feijão dela (que eu amo!) foi fácil aderir, embora ela não desistisse do ratatouille.
Só que filho é assim, na casa dos outros come tudo o que rejeita sem experimentar, contrariando as mães. Nossa vizinha fazia o mesmo sopão da minha mãe, porém batia no liquidificador, ficava tipo um creme. Eu me lambusava, repetia, elogiava. Assim fui descobrindo que minha implicância era com aqueles legumes todos ali, expostos. Raramente as crianças se encantam por legumes e verduras, adultos tampouco. Aceitam obrigados pelas dietas médicas ou estéticas. Tem até aquela canção do Palavra Cantada que diz: "Mas tem sempre alguns legumes, que não sei como eu engulo".
Pois na Sinhá Saúde ganhamos os pequeninos apostando nos cremes, como a minha vizinha fazia. Para estimular a aceitação dos legumes e verduras, quando visíveis, misturávamos massas divertidas, como letrinhas, conchinhas, argolinhas, minhoquinhas.
Uma vez até estrelinhas eu achei nas minhas andanças pelos supermercados. Ainda hoje prefiro cremes, consomês, mas também sei apreciar um belo cozido, com grandes pedaços de abóbora e até batata doce! Tinha um  bloqueio com relação a ela e hoje como com melado. Isso devo aos meus clientes-mirins. Muitas vezes tive de experimentar antes deles, para incentivar a degustação. 
Por falar em frio e sopas, minha amiga Isa tem um lindo trabalho lá no ABC Paulista. Com a mãe e um grupo de voluntários, prepara e serve sopa para moradores de rua, aquecendo a barriguinha e o coração de muita gente. Grande alma a da Mulher Maravilha. O nome da minha filha escolhi em homenagem a ela, essa pequenina grande pessoa que para sempre estará comigo, independentemente dos quilômetros que nos separem. Câmbio, Mulher Maravilha. Mulher Gato desligando.    

We don't need a revolution