sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Pera, uva, maçã


Salto da cama às 8:30 em ponto com a receita de torta de meu colega de repartição Fefê (MC de eventos, organizadores de grandes festas, carnavalesco e babados afins) na cabeça. Compro mais fruta do que conseguimos consumir em casa e aí elas ficam com aquela cara de ontem. E foi de tanto ouvir essa minha ladainha que Fefê ordenou:  - pega aí um papel e uma caneta que vou te ensinar uma torta fácil para você fazer com suas bananas moles. A receita ele aprendeu quando foi morar sozinho, nem sei quanto tempo faz, ele é uma criança grande com um coração enorme.
Sua cara de nojo quando eu disse que ia preparar um doce com a penca de bananas escurecidas, usando açúcar mascavo me fez repensar. Já disse que não sou boa com doces, mas topei aprender. Não se trata de uma receita complicada, nem exige batedeira (me aborrece ter de lavar aquelas hélices) e fica uma delícia. A vantagem é que você pode usar outras frutas, pera, uva, maçã...melancia não, né?
É assim: junte cinco colheres das de sopa de farinha de trigo (pode ser da integral, se preferir), mais cinco de açúcar, cinco de fermento. Misture tudo. Depois corte as bananas (ou outra fruta) em fatias médias. Unte uma forma com margarina e comece a montar a torta colocando uma camada da mistura de farinha, outra de banana e vá adiante. Aí, você bate (na mão mesmo) um ovo, com uma medida de uma xícara de leite e canela. Regue a torta com essa mistura, procurando distribuir bem por toda a enxtensão do tabuleiro. Aplique colheradinhas de margarina sobre a torta e mande para o forno. A minha ficou uns vinte minutos até dourar bem.
Não sei vocês, mas eu adoro banana e é raro não ser dessa fruta meu pedido em confeitarias e padocas. A menos que me engane. Como uma vez em Paris (ai, que tuda!) quando eu e minha sista Virgínia babamos por um doce na vitrine de uma loja e fomos logo pedindo dois, um para cada. E era enorme, parecia apetitoso, mas não era. Nem posso lembrar daquele gosto horrível de ovo. Ambos foram parar na lixeira da primeira esquina. Aprendemos a perguntar (e olha que ela fala francês!) e a dominar os impulsos motivados pelo zóião.
Foto da torta que fiz na próxima semana, ok? Vou fazer uma maior, essa já foi. Meu segundo doce é uma homenagem à Ofélia Ramos Anunciato e sua cozinha maravilhosa. Ela é minha Julia Child, autora da coleção de livros com acabamento dourado que minha mãe usava na cozinha nos anos de 1970 e apresentadora do programa do qual a Renatinha Pop sonhava em ser produtora. Não duvido que ainda sonhe.

Julie, Julia e eu

Famintas desde a hora do almoço e sedentas pela programação das 21:40 no cinema, eu e minha fiel escudeira não esperávamos rir tanto, como há muito não fazíamos. Devoramos uma pizza média de atum (eu prefiro aliche, mas...) e portuguesa em 15 minutos e disparamos para a Sala 2. Por nada eu perderia esse filme, falei no post sobre o livro de receitas afrodisíacas e contos de Isabel Allende, lembram? Uma louca  Julia Child (Maryl Streep) garantiu quase todos os momentos de total descontrole sobre nossas gargalhadas na fileira quase vazia que nos permitiu tirar os sapatos e nos estarrarmos como no sofá de casa. Outra atrapalhada, mas apaixonada Julie Powell (Amy Adams) me fez refletir sobre algumas patinadas (sim, eu já liguei pro trabalho e avisei que não ia, chorando com o pé inchado por uma megatorção causada pelo pudim de leite espatifado no chão da minha primeira cozinha) entre receitas que não deram certo e saborosos bocados de vida.
Recomendo, muito, muito mesmo Julie& Julia e queria ter o livro de cozinha para mulheres americanas sem empregadas. Lá pelas tantas tem Talking Heads (psyco killer) no hilariante assassinato das lagostas. Isso me comoveu e me fez cantar bem alto (eu não temo platéias, ainda mais quando são pequenas como essa de hoje). E eu amei a blusinha com estampas de cerejas (o botton de Julie é meigo) em perfeitas leituras aplicadas para as duas personagens em cenas sequenciais.

Entre hmmmmms e eeeeeeecas, vamos lá, deixa eu listar o que nunca vou tentar preparar até porque jamais tive coragem de provar: ovos nevados (putz, que nojo, não esperava ver essa receita no filme)  e ossobuco (não tá no filme, mas tenho trauma causado pelo incidente que presenciei certa vez com meu colega de trabalho "uógner" que um dia eu conto). E quanto a desossar um pato ou qualquer outra ave, ainda vou tentar. Acho isso mágico, já vi feito, mas quero acompanhar o processo, dominar a arte. Só não me desafiem a matar nada. Aliás, em Afrodite, Isabel Allende também relata (e repudia) algumas atrocidades inevitáveis em receitas que "inibem a libido" em frações de segundos. O romance fofinho de Julie e Eric rende deliciosos suspiros. Como não gosto tanto assim de açúcar, cheguei em casa doida pela trufa de chocolate, mas me contentei com a gelatina de framboesa. Tinha esquecido que foi minha dose de ontem, depois do jantar. Também amo manteiga Julie e Julia, mas só uso na culinária. Meu café da manhã, já faz algum tempo, é chá branco, fruta e bisnaguinha com requeijão light. Iogurte pra variar. Tá bom, cada coisa a seu tempo.