quinta-feira, 22 de julho de 2010

O delicado inesperado (ou nós temos uma caixa cheia de histórias)

Não posso ver caixas, caixinhas, caixões, baús. Adoro em todos os formatos, tamanhos, cores, estampas e utilidades. Hoje almoçava com minha filha perto do trabalho e resolvi apreciar a exposição de caixas de uma senhora muito criativa e simpática. Todas lindas de fazer suspirar. Desejei o floral miudinho da tampa em almofada com capitonê de uma, os laços de cetim no acabamento de outra e, sem resistência, meus olhos foram capturados pelo poá em preto e branco do tecido do corset aplicado na tampa de uma das maiores caixas que ela tinha. Cheia de divisórias internas, mil e uma utilidades, até espelho! Ela era a mais linda caixa. A senhora percebeu o encanto que seu artesanato exerceu e facilitou para que eu arrematasse a peça. Mas preferi não ceder ao ímpeto consumista. Neste meio tempo aproxima-se o marido, seu companheiro na produção das peças, e me oferece um pedaço de chocolate. Minha filha vem chegando e também recebe seu quinhão.
- Gostou da caixinha? Leva, você merece ela. Disse generosamente o senhor alto com óculos de Gepeto na ponta do nariz.
Elogio toda a coleção, o empreendedorismo do casal, desejo sucesso e não consigo sair dali sem uma encomenda. A proposta tentadora é para dentro de dois meses receber minha caixinha de poá, em lilás e branco, já que tinha usado como desculpa a estampa não ser da minha cor preferida. Convencida pela delicada abordagem de dois carismáticos vendedores, levo um cartão, deixo meu número de telefone para me avisarem quando a encomenda estiver pronta. Agradeço o chocolate a seu Estanislau fazendo piadinha com o nome dele e qual a minha surpresa?
- Não sou o Lalau, mas fui muito amigo dele...eita saudade dos bons tempos no Rio, das muitas risadas que eu dei com esse cara.
 - Sou carioca, meus tios riam também com as tiradas dele. Retruco.
O "cara" é Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Porto, um sujeito multicriativo que de tudo experimentou em termos de linguagem para expressar seu modo desprendido de enxergar as coisas da vida e dela fazer gato e sapato. Eu que na minha primeira saída a campo, quando aprendiz de repórter na faculdade me deparei com uma filha adotiva de Tenório Cavalcanti (o Homem da Capa Preta) e dali saí com uma bela reportagem de iniciante não resisto a uma boa história. Vou guardar cada centavo empenhado na promessa de ter minha caixinha de poá lilás e esperar para dentro de dois meses ouvir o que me vai contar seu Estanislau sobre as muitas e boas de sua convivência com quem não chegou a editar a Revista do Lalau, mas fez e disse é coisa incorporando Stanislaw Ponte Preta, o rei do besteirol. 
Já me dei ao trabalho de pesquisar o significado do nome grafado com "E", como o do amigo de Sérgio Porto, hoje fabricante de caixinhas encantadoras por essas bandas do Sul. Olha só o que me espera.
"Muita inteligência e poder de comunicação, apontam para sua necessidade de falar, embora nem sempre diga tudo o que lhe vem à cabeça. Segue sempre movido pela razão, e se enfurece quando é desmentido ou contrariado. Sempre pensa muito, e isso interfere na concentração do que está fazendo. Pode vir a ser um excelente escritor, advogado ou professor. Mas para isso deve aprender a controlar seu nervosismo e se observar para não virar um tagarela."