sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Boiei


Depois de ouvir a Defesa Civil avisar para ninguém sair de casa que o céu tá desabando nas terras de Santa Catarina de Alexandria, o que eu faço? Saio. A caminho do trabalho, sou arrebatada por uma onda em plena Madre Benvenuta. O carro foi de lado, avisei pro motoqueiro sair que eu tava sem controle. É que ele viu o carro vindo de lado e não atinou que aquela era uma manobra involuntária, um surfe forçado. Parecia aquela propaganda na qual a moça estaciona o carro na vaga entre outros dois veículos sem baliza, de ladinho. Segundos depois, o meio fio me salvou e eu parei.
Um caminhão acabara de passar pelo rio Santa Mônica - a avenida não exisita mais - e provocado aquela pororoca toda. Aí voltei apavorada para casa, agora sim disposta a atender a recomendação da Defesa Civil e evitar tragédias no caos da chuva em Floripa. No caminho pela Lauro Linhares, que não alagou, vim atenta, mas sem susto. Aqui não enche.
Como andamos em busca do sonho da casa própria, foi inevitável o assunto pautar meus pensamentos neste dia em que os defeitos da cidade, bairro a bairro, ficaram mais evidentes. Lembrei do que disse minha amiga Claudinha, descolada em negócios a moda americana, a mais exigente. "Começa a ver o imóvel sempre pelos defeitos, Nega", ensina ela. A estratégia é baixar o preço, que aqui é surreal desde que Floripa foi capa da Veja. Qualquer apê kinder ovo aqui não sai por menos de 200 mil. Sai não, encalha.
Voltando ao que pensei, assistindo a chuva de mais de 24 horas cair sem parar de fazer seus estragos, tive a idéia. Vou ligar agora para telefones em cartazes colados nas janelas de imóveis à venda em locais inundados e propôr uma visita: - ciquenta mil é muito! Imagina, quando chove alaga tudo!
Santa Mônica e região, bairros onde qualquer biboca de 100 foi pra 300 porque "o shopping valorizou" estariam, no dia de hoje, facinho, a preço de banana caturra.
- Valorizou? Ah, sim, agora os moradores podem compar no BIG, logo ali, um bote inflável na seção de produtos de praia e resolver a vida. Tem razão, o shopping agregou um valor ao bairro, até aterrou aquele mangue que atraía mosquito, dengue, febre amarela, credo. O bairro tá uma uva passa.
Não consegui visitar nada, nem daria. Só se fosse em apnéia, de snorkel, não de rasteirinha e óculos Jackie o, né?
Eu fui fazer uma piadinha com um corretor que me atendeu e não consegui dormir sem essa: - Ah, mas aí é exigir demais, minha senhora. Quem vive na Ilha, tá cercado de águaô.

Santa Catarina de Alexandria é padroeira deste estado abençoado e também dos estudantes, que estão entocados nos milhões de lançamentos imobiliários no entorno da UFSC. Por causa deles, dizem os especuladores imobiliários, esse bairro tá ficando a cada dia mais caro. Mas aí? Valorizou por que?
São Pedro, manda a trégua, manda mo quirido. Santa Catarina, rogai por nós.

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