terça-feira, 26 de julho de 2011

Esperança é a primeira que nasce

Era uma manhã meio preguiçosa, mas ainda assim fui para minha rotina de exercícios na Baía Sul. Naquele dia tinha planejado pular a meditação no trapiche. Porém, a corrida exigira tanto de mim que achei merecido o momento de repouso do corpo e da mente. Cada vez mais acredito nas escolhas pela intuição, no livre arbítrio e no amor. Pois é nisso que me amparo para contar sobre o encontro com Lili, esta pequena loba aí da foto, com olhos puxadinhos  e cheios de charme e esperança. Acomodada sob um pedaço de plástico, ao lado da casa de barcos,  no caminho para o trapiche, ela aguardava ajuda. Tinha um punhado de ração deixada a uma distância que somente alcançaria quando a dor lhe permitisse se arrastar até lá. Sem água e nem teto, não sabia que aquela noite seria das mais frias. Quem a deixou lá ferida em um provável atropelamento também não pensou nisso, quero crer. Desejou, já arrependido, que alguém a recolhesse antes da noite chegar. Se não foi assim, prefiro nem pensar em outro argumento. Também vou considerar a total ignorância dessa pessoa a respeito da lei federal que considera crime o abandono de animais. Acima de tudo, vou pedir a Deus o perdão para, a partir de agora, só falar de amor.
Agradeço por meu anjo me guiar até este lugar e por Lili ter entrado em nossas vidas. Agradeço ao dr. David, veterinário da clínica Duro de Roer (48 3234 4170) que prontamente se dispôs a atender Lili lá no local onde a deixei com a promessa de buscar socorro. Ao dr. Ricardo, da clínica Pet Sul (48 32331469), onde Lili ficou internada por três dias, também agradeço. Recomendo maior agilidade no atendimento do serviço público, que contatei ao meio dia e me retornou no meio da tarde. Se fosse questão de vida ou morte, Lili não teria chances. Mas ela teve. Assim como nós também tivemos a oportunidade de aprender muito com essa cachorrinha, nos últimos 40 dias. Eu e Pequena Buda, com a ajuda do Pepê, nosso mascote, e de amigos. Nosso cão solidário gentilmente cedeu a sua casa de madeira para abrigarmos Lili, soube dividir a nossa atenção e carinho com ela, o que para um terrier não é uma tarefa muito fácil. A fisioterapia indicada pelo veterinário, as preces, os pensamentos e palavras positivas, as histórias de ninar que a Pequena Buda leu para ela, além das outras brincadeiras diárias com a nossa hóspede, a força de amigos a quem recorremos para ajudar com o material necessário para os cuidados com a cachorrinha, a ração doada pela vovó Lúcia (com ela recolhi alguns cães das ruas, quando eu era criança. Dela recebi a devida educação para amar.) tudo contribuiu para o agora: Lili está de pé, corre, abana a cauda branca de lobinha, sorri, late e faz travessuras comuns a qualquer cão de oito meses. Ela venceu com sua esperança e nós recebemos de Lili uma grande lição de amor e fé. Quando via suas patinhas feridas por arrastar-se no chão, eu ficava triste, desconfiava até da previsão médica de que ela voltaria a andar. Então refazíamos os planos, pensávamos em mandar fazer umas rodinhas adaptáveis as patas traseiras da matusquela. Ideia da Pequena Buda, esclarecendo que Lili seria igual a qualquer pessoa com demandas especiais e seria feliz assim também. Mas aí, a pequenina abanava o rabo para mostrar que recuperava os movimentos. Fazia xixi no jornal para vermos que o controle da urina se regularizava. Uma senhora, ao ouvir minha conversa com uma amiga, no elevador de um prédio público, intercedeu: - pode acreditar que ela vai andar. Meu salsichinha teve cinco fraturas na bacia, andou em cinco meses.
Eu não sabia quantas eram as fraturas de Lili, mas David tinha me dado uns quarenta dias para a recuperação dela. E foi batata!
Muitas vezes conversamos:
- Lili, você é muito corajosa. Enquanto o Pepê chora ao sentir os primeiros pingos de chuva, pedindo para ser recolhido, você vai sozinha para dentro da casa e dorme tranquilamente, até a tempestade passar. Não tem medo de trovões, nem de fogos de artifício. É paciente para aguardar sua hora de poder entrar aqui em nossa casa, porque entende que agora não sabe quando e nem onde fará xixi e caquinha. Você será uma grande dama!
Todas as vezes que o vovô terrier rabugento rosna, ela devolve graça para ele. Se lá no cachorrês, entre eles, recebe ofensas inaceitáveis, sabe se defender com bravura e elegância. Aliás, isso está ficando mais frequente e, suponho, é hora de separar os dois. Quando adotei meu primogênito, sabia que era um cão possessivo, ciumento e muito inteligente. Eu o amo exatamente como é, um tanto imaturo e inseguro. Por isso mesmo ele só mostra os dentes para Lili, sabe muito bem que numa moça não se bate nem com uma flor. E também compreende a imaturidade da filhote, sua necessidade de segurança e de demarcar seu território.
Os terries escolhem seus donos, tão logo são ambientados em uma casa. Tive a felicidade de ser "a eleita" de Pepê e sou grata por este meu amigo fiel de todas as horas. Agora o amo e respeito ainda mais porque soube dividir seu espaço na matilha com uma irmã necessitada. Mostrou que é um cavalheiro.
Lili está curada e é hora de buscar um lar para ela. A campanha nas redes sociais tem sido auxiliada por amigos e ongs de proteção e de encaminhamento para a adoção de animais. Não vou dizer adeus porque Lili será nossa amiga para sempre, onde quer que esteja. Espero vê-la solta num espaçoso e seguro quintal, cercada de amor, cuidados e de alegria. Que assim seja!

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